domingo, 12 de junho de 2011

sempre chega a hora


Acordei com uma tristeza batendo de leve, daquelas que não dá vontade de sair mais do aconchego da cama. E fiquei por horas acordada, sem mexer um dedo.
Arrumei minha bolsa, coloquei pra dentro meus dois livros novos, chocolate, uma cerveja com limonada, minha coberta, meu netbook e meu diário. E voltei pra aquele lugar que tinha ido na minha primeira semana aqui. Enquanto caminhava, sentia o cheiro das margaridas, que agora faziam o caminho até a árvore que eu procurava, e pensava em quanto uma pessoa pode mudar em um mês.
Faz apenas um mês que tinha feito aquele mesmo trajeto, mas meus pensamentos foram completamente diferentes dos da primeira vez.
Há um mês atrás não larguei a câmera, tirei foto de cada momento pra deixar registrado, eu estava eufórica, louca de curiosidade do que me esperava, cheia de planos, com novidades e perguntas.
Hoje eu vim aqui à procura do som que o silêncio faz, de uma paz que aprendi a conquistar com minha companhia. Vim porque eu queria sentir que não estava sozinha mesmo estando sem ninguém ao meu lado, vim tentar achar um pouco de fé, quem sabe. E achei, achei uma tranqüilidade que fazia tempo que não experimentava.
Parei de sofrer por não ter quem eu amo em cada lugar do meu lado, não que tenha parado de doer. Na verdade, a saudade machuca cada vez mais. Mas não tenho mais pensado o comentário automático: ‘seria bem mais legal se tal pessoa estivesse aqui’.
Isso me faz pensar, que por pior que seja a situação, a gente realmente se acostuma. Se acostuma a chorar menos lágrimas, a pensar mais positivo, a desejar coisas que estejam mais o nosso alcance.
Eu ainda torço para os próximos nove meses passarem voando, mas esse é apenas um item da minha lista de desejos. Na frente dele, tem muitos outros.
E além de me adaptar à um novo ambiente, à pessoas que não sorriem, à um bom dia em outro idioma, me pego sentindo coisas que nem mesmo sei nomear. Sentimentos sempre bipolares e extremos, como tudo em mim sempre foi. Assim como Tati Bernardi escreveu: ‘Hoje de manhã, eu acordei e fiquei olhando para tudo catatônica, um misto de susto com deslumbramento. Me dei conta de que essa é a pior e a melhor fase da minha vida. Eu nunca fui tão triste e nem tão feliz.’
Dei de cara nesse mês com coisas que jamais tinha esbarrado minha vida inteira. Estar acostumada com o conformismo e ter que abandoná-lo radicalmente, realmente me pregou um grande desafio. E não é pelo dinheiro que não posso pedir emprestado pro meu pai, ou por não ter ninguém pra lembrar de levar casaco. É muito maior que isso. É ter a obrigação de fazer as coisas darem certo, sem ter desculpas, sem ter ninguém pra colocar a culpa. É ter, literalmente, a felicidade em minhas mãos. Ou eu faço dar certo, ou ninguém, NINGUÉM, mais faz isso por mim. Enfim, sabe aquele frase? ‘Agora é comigo’. Isso é assustador e ao mesmo tempo, delicioso. Se sentir dono do seu destino e perceber que sempre dá tempo de mudar tudo, de melhorar, de ser uma nova pessoa.
Tava conversando com uma amiga e ela comentava sobre como esquecemos os detalhes ruins e nos apegamos apenas aos que foram bons. Ela deu como exemplo uma viagem que tinha feito no inverno, que era impossível ficar na rua de tão frio. Mas que hoje elas comentavam apenas que Praga era lindo, que viagem ótima! Provavelmente, daqui um tempo, eu só vou me lembrar das partes boas. Vou dizer: ‘É, valeu muito a pena. Foi um pouco difícil no início, mas no geral, nossa, foi maravilhoso.’
E quero isso mesmo, que fique marcado cada instante delicioso que tive aqui. Deixa pra lá cada problema, cada vez que desejei mais do que tudo voltar, cada crise de choro.
E sobre hoje só quero lembrar da minha música preferida tocando enquanto eu escrevo esse texto.

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